Ir para o conteúdo principal

A palestra do professor Graeme Codrington na InTouch 2011 – evento organizado pela Amdocs, provedora de soluções em software para empresas de telecom – se não foi a mais aplaudida, foi, de longe, a mais bem humorada. Sua apresentação, sobre as gerações Y, X e Baby Boomers, motivou gargalhadas de muitos dos presentes, talvez identificados com as situações que descreveu.

“Vocês são daqueles que só assistem DVDs quando seus filhos estão em casa, por não conseguirem mexer no aparelho? E não é nem uma questão de fazê-lo tocar a mídia, o problema é encontrar o controle remoto correto. E na hora de aprender a usar um smartphone novo, vocês leem o manual? Eles nem vêm mais com manual! Ou vocês o entregam aos jovens para que, 15 minutos depois, eles voltem para explicar direitinho o que fazer?”

Logo no começo da exposição, Condrington exibiu uma cena do filme De Volta Para o Futuro. Primeiro porque o futuro do qual o longa trata não está longe: 2015 – é hora de se perguntar se algumas das projeções foram acertadas. Segundo, porque seu lançamento, em 1985, se deu quatro anos antes de o mundo mudar completamente.

O professor lembra que a partir de 1989, grandes eventos se sucederam em um espaço de oito meses. Junho (5/6) marca o término dos protestos na Praça da Paz na China, logo após o massacre promovido pelo Governo do país. Em novembro, o muro de Berlin é derrubado, dando fim à divisão da cidade alemã em dois lados, capitalista e socialista. Um mês depois, em 25/12, o ditador Nicolae Ceausescu é executado, e a Romênia abandona a URSS. Já em 1990, em fevereiro, Nelson Mandela é libertado na África do Sul, após passar 27 anos preso.

Todos esses acontecimentos foram preponderantes para o desenvolvimento da Geração Y. Se seus predecessores da Geração X conviveram em meio a grandes incógnitas, incertos sobre o que os anos seguintes lhes reservavam, as crianças nascidas no começo da década de 80 já podiam ter uma ideia melhor sobre o caminho que deveriam seguir.

“Família, religião, condição econômica são fatores importantes, mas nada se compara a esses primeiros 15 anos de vida no que se refere à formação de uma pessoa”, esclareceu Codrington.

Em seguida, tratou de explicar as diferenças entre as gerações, e, para ilustrá-las, usou três peças publicitárias – todas de produtos de tecnologia.

Baby Boomers
Os Baby Boomers, afirmou o professor, nasceram em uma época de grande otimismo, acreditavam em mudar o mundo e, o que é mais impressionante, ainda acreditam. Não raro, pouco após se aposentarem, voltam à atividade, desta vez como consultores.

“Aquele aforismo, que diz que o único empecilho para que você atinja todos os seus objetivos é você mesmo, vale para essa geração. Eles, no entanto, sabem que não mudaram o mundo. Por isso, acho, ainda estão no mercado”.

Eles têm a visão, eles têm a motivação, eles têm o dinheiro. Precisam, porém, de ideias concretas para colocar tudo em funcionamento. – daí que podem contar com a ajuda da Geração Y. Codrington gosta de resumir o pensamento dos Baby Boomers com a frase que um parente seu costuma dizer: “Quando eu morrer, o mundo acabará”.

Geração X
As pessoas dessa geração não têm medo, de acordo com Codrington. Seus primeiros anos foram permeados de incertezas e, ao perguntarem aos pais o que estava acontecendo, não conseguiam nenhuma resposta – mesmo porque os mais velhos também não as tinham.

Aprenderam desde cedo que o sistema era na base do cada um por si. Aos 30 anos, já passaram por mais empregos do que seus pais tiveram a vida inteira. Aos 35, metade deles está em um trabalho sem nenhuma relação com a área na qual se formou. O trabalho por sinal não está no topo de suas prioridades. Querem flexibilidade, viagens, diversão, liberdade. É possível que a profissão só apareça em quinto lugar.

Felizmente, quando passam por dificuldades, costumam ter um boomer a quem podem recorrer: ficam um tempo na casa dele – por vezes tempo demais, é verdade – se recompõem, e partem para a próxima aventura. “A Geração X é a geração whatever (tanto faz)”, disse.

“Eles adoram mudanças. Mais do que isso, eles precisam de mudanças. Quando não as têm, eles as criam. E se para vocês isso significa caos, pois bem, eles adoram o caos. E quando não o têm, eles o inventam”.

Geração Y
“O que há com os jovens de hoje em dia?”, perguntou Codrington. “Se vocês têm filhos, sabem do que estou falando. Mas, garanto-lhes: por mais que pareça, não se trata de uma alteração genética. A profunda confiança que eles sentem, algo próximo da empáfia, é motivada por outro fator. Desde a tenra infância, são os consultores tecnológicos da casa. Eles auxiliam, decidem, ensinam. Vocês aprendem”.

Tal qual a geração anterior, os garotos da Geração Y também não gostam de rotina. Eles aceitam um celular corporativo da empresa, para que possam ser contatados a qualquer momento – em uma sexta-feira à noite, na manhã de domingo – mas querem que essa flexibilidade valha para os dois lados. Pediram uma folga na terça à tarde para assistir ao futebol? Isso não quer dizer que toda terça-feira faltarão ao trabalho. Assim como não trabalharão todo sábado.

Para o especialista também é falsa a constatação de que os membros da Geração Y não se conectam com ninguém. É justamente para isso, diz, que eles sempre carregam o smartphone. Essa geração é a mais conectada de todos os tempos, e o surgimento das redes sociais não foi um acaso – muito menos seu consequente sucesso. Possuem um desejo urgente de fazer parte de um grupo, de se verem incluídos, de se sentirem maiores do que realmente são.

Por isso, alega Codrington, é um contrassenso bloquear portais como Facebook e Twitter nas empresas. São a partir desses sites que os jovens compartilham, cooperam, contribuem, engajam: rendem bem mais com eles do que sem eles. As companhias devem dar um jeito de conectar seus funcionários – para um desempenho melhor – e seus clientes – para deixá-los satisfeitos. Um dispositivo sem acesso à Internet não serve para esse público.

Como atrai-los
“Os membros da Geração Y não querem apenas subir na empresa. Eles têm outras direções em mente”, afirmou o professor. Estão sempre entre uma coisa e outra – costumamos reduzir essa postura ao conceito de multitarefa. Não anseiam por estabilidade, mas por crescimento.

O crescimento não é necessariamente financeiro. Se eles avistarem uma boa oportunidade na companhia – ou em outra – mesmo que não seja um cargo superior ao que ocupam, não pensarão muito antes de arriscar. Para mantê-los motivados, e presos à empresa, é necessário provê-los com conhecimento, treinamento, aulas – e estas, é lógico, podem ser online.

Mas, principalmente, eles querem saber o porquê de tudo – talvez daí, brinca Codrington, venha o nome da geração, já que “y”, em inglês, se pronuncia why (por que). Na palestra, o especialista fez um desafio aos chefes: expliquem aos seus jovens funcionários os motivos pelos quais eles devem fazer isso, e não aquilo, e por que de determinada maneira, e não de outra, os resultados serão melhores.

“Não pensem que as pessoas da Geração Y são simplesmente versões mais jovens de vocês. Esqueçam o que costumavam ouvir de seus pais – Because I said so (Porque eu disse) – e expliquem suas decisões. Vejam como isso fará a diferença no comportamento dos jovens. Se não fizer, mandem-me uma mensagem”, disse, enquanto mostrava seu e-mail na tela. “Das centenas de apresentações que já fiz, nunca recebi um retorno ressaltando meu engano”.

Oportunidades
Por fim, Codrington comentou as inúmeras oportunidades que os próximos anos reservam. Se os membros da Geração Y desejam tecnologia para assisti-los e conectá-los, os baby boomers não estão atrás, desde que os produtos sejam fáceis de usar – vide o sucesso do iPad entre o público mais maduro.

Os adultos que nasceram pouco após a Segunda Guerra Mundial ainda estão no mercado. Os garotos da década de 80 já estão nele, e se destacam por entender melhor o que é inovador e atraente, e o que não é. A questão, ressalta o especialista, é que três quartos da renda global estão nas mãos dos baby boomers. É chegada a hora de unir as novas ideias de uma geração ao capital de outra.

Codrington já tem em sua cabeça uma contagem regressiva para 2015. Até lá, espera, os problemas que temos visto darão espaço às soluções. A pergunta que faltou ser respondida, no entanto, foi esta: se os baby boomers se unirão à Geração Y na construção do futuro, como ficará a geração whatever?

Fonte: Ricardo Zeef Berezin – IDG Now

Deixe uma resposta