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Escrito para digitaltalks por Rui Ribeiro – Link original do artigo

Há dias numa conversa com um diretor de tecnologia de uma média empresa nacional, ele explicava-me que tinha definido a Estratégia Digital para o próximo ano. Como este é um tema na qual trabalho, fiquei curioso e questionei “Então qual é a Estratégia Digital da tua empresa?”. E obtive a seguinte resposta direta e simples: “Vou mudar os meus servidores para a Cloud e deixo de me preocupar com o hardware!”.

Aí fiquei estarrecido! Como lhe podia dizer que ele estava apenas a implementar 1 a 5% do que é uma efetiva Estratégia Digital.

Comecei por lhe dar um ânimo positivo de que era um bom ponto de partida, mas não de chegada. Que certamente aquela atividade provavelmente lhe daria graus de agilidade nas suas capacidades de computação e armazenamento essenciais a picos de utilização, que de outra forma seriam complexos de alcançar. Em termos práticos, o conceito de comprar infraestruturas para suportar picos de utilização já não faz sentido. Mas … há muito mais numa Estratégia Digital.

Estratégia Digital é acima de tudo entender como o potencial do mundo digital pode potenciar os processos de negócio, isto é, é uma peça fundamental no alinhamento da Estratégia de Negócio da empresa com a sua Estratégia de Tecnologias de Informação. Assim, lancei-lhe o desafio de conhecer para onde as áreas de negócio querem levar a empresa, isto é, quais as principais apostas ao nível de eficácia (mais faturação, mais produtos, mais serviços, internacionalização, mais canais de venda) e ao nível da eficiência (redução de custos, automatização de processos). Para isso, seria importante ele validar em que medida a sua empresa teria já os seus processos de negócio modelados (pelo menos os macro processos).

Adicionalmente, questionei-o em que medida teria ele na gestão de serviços tecnológicos, da sua direção de TI, a implementação de melhores práticas de gestão de serviços, ou de outra forma simples se ele tinha os seus processos desenhados já com base em ITIL ou ISO20000. Estes dois vetores de “ataque” permitem-lhe entender o grau de maturidade digital da organização e a distância a que está de alcançar a visão do negócio digital.

Posto isto, e entendendo a sua realidade, lancei-lhe mais um último desafio, antes de fechar de facto a sua Estratégia Digital: estudar conceitos tecnológicos que irão certamente revolucionar o mundo dos negócios nos próximos 10 anos. Neste contexto, deveria estudar o funcionamento pelo menos do que são conceito como Internet of Things, Inteligência Artificial / Sistemas Cognitivos, Realidade Virtual e Aumentada, Cibersegurança, Blockchain, Robotização e Impressão 3D. Sabendo que ele teria sempre como bases de desenvolvimento a já referida Cloud, mas também a gestão analítica de dados (Big Data), todo o impacto da mobilidade empresarial inerente de ter clientes, parceiros e colaboradores em qualquer local do mundo e entender que há novas formas de posicionar o negócio em âmbitos de redes sociais.

Ficámos de falar em breve, sabendo que ele se vai aperceber que uma Estratégia Digital é para mais 3 a 5 anos, e não para um ano, bem como estou certo que quando ele estiver da próxima vez comigo me irá dizer que afinal não tinha ainda definido a Estratégia Digital, mas apenas a tinha começado. Estarei preparado para lhe confirmar tudo isso e para lhe referir que ele vai ter de saber medir a sua evolução e execução. Pois a implementação dessa viagem, que é a Estratégia Digital, vai precisar de a gerir bem e, só o conseguirá fazer, se tiver definido os indicadores de performance desse caminho, para poder corrigir o que estiver a desviá-lo do objetivo ou a acelerar o que estiver a correr bem.

Em resumo, uma Estratégia Digital é muito mais que ir para a Cloud! É uma viagem ao mundo dos negócios.

Sobre o Autor
Rui Ribeiro – Com mais de 20 anos de experiência profissional é atualmente Diretor Geral da IPTelecom, tendo anteriormente sido Diretor Comercial e Desenvolvimento de Negócio da Infraestruturas de Portugal S.A., Diretor de Sistemas de Informação na EP – Estradas de Portugal S.A. e Professional Services Manager da Sybase Inc. em Portugal. A nível universitário é Diretor Executivo da LISS – Lusofona Information Systems School, Diretor da ESCAD – Escola Superior de Ciências de Administração do IP Luso, Diretor da licenciatura em Informática de Gestão da ULHT e Docente da ULHT. Licenciado em Engenharia Informática pelo IST, MBA na Universidade Católica Portuguesa e DBA – Doctor in Business Administration no ISCTE/IUL com a Tese “Business Models for Open Source Software Vendors”.

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