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Como parte de uma mudança sísmica na aprendizagem online que está remodelando o ensino superior, a Coursera, uma empresa de um ano, fundada por dois cientistas da computação da Universidade Stanford, anunciou nesta terça-feira, 17, que uma dúzia de grandes universidades de pesquisa vão aderir ao negócio. No outono (primavera, no hemisfério sul), a Coursera irá oferecer pelo menos 100 cursos online abertos (MOOCs, na sigla em inglês), com os quais espera atrair milhões de estudantes e adultos no mundo todo.

Mesmo antes da expansão, Daphne Koller e Andrew Ng, os fundadores da Coursera, disseram que a empresa havia registrado 680 mil alunos em 43 cursos com os seus parceiros originais: Michigan, Princeton, Stanford e a Universidade da Pensilvânia.

Agora, os parceiros incluem o Instituto de Tecnologia da Califórnia; Universidade de Duke; o Instituto de Tecnologia da Georgia; a Universidade Johns Hopkins; a Universidade Rice; a Universidade da California, San Francisco; a Universidade de Illinois, Urbana-Champaign; a Universidade de Washington e a Universidade da Virgínia, onde o debate sobre educação online foi citado na expulsão, no mês passado – rapidamente revertida -, de sua presidente, Teresa A. Sullivan. Entre os parceiros estrangeiros estão a Universidade de Edimburgo, na Escócia, a Universidade de Toronto e a EPF Lausanne, uma universidade técnica na Suíça.

Alguns dos parceiros irão oferecer créditos aos alunos

“Isto é um tsunami,” disse Richard A. DeMillo, diretor do Centro de Universidades do séc. 21, da Georgia Tech. “É tudo tão novo, que todo mundo está sentindo que ele está a caminho, mas o potencial deste experimento é tão grande que é difícil para mim imaginar que qualquer grande universidade de pesquisa não queira se envolver.”

Por conta dos avanços tecnológicos – entre eles, melhoraram muito a qualidade de plataformas de comunicação online, a habilidade para personalizar meteriais e a capacidade de analisar um grande número experiências de estudantes para ver qual delas funciona melhor – os MOOCs tendem a ser a virada do jogo, abrindo o ensino superior a centenas de milhões de pessoas.

Para ressaltar, a maioria dos MOOCs são compreendidos por ciência da computação, matemática e engenharia, mas a Coursera está se expandindo para áreas como a medicina, poesia e história. MOOCs eram praticamente desconhecidos até que, no ano passado, uma onda de publicidade sobre o curso de inteligência artificial, online e gratuito, da Universidade de Stanford atraiu 160 mil estudantes de 190 países. Apenas uma pequena porcentagem deles completaram o curso, mas ainda assim, os números foram surpreendentes.

“O fato de tantas pessoas estarem curiosas sobre estes cursos mostra o anseio que existe pela educação”, diz Molly Corbett Broad, presidente do Conselho Americano de Educação. “Serão vários solavancos pelo caminho, mas esta é uma experiência importante em uma escala substancial.”

Até agora, os MOOCs não ofereceram qualquer crédito, apenas uma “certificado de conclusão” e um grau. A Universidade de Washington, no entanto, informou que planeja oferecer crédito pelos cursos ofertados pela Coursera neste outono, e outras experiências online estão se movendo na mesma direção. David P. Szatmary, vice-reitor da universidade, disse que para ganhar crédito, os estudantes provavelmente terão de pagar uma taxa, fazer exercícios extras e trabalhar com um instrutor.

Especialistas dizem que é cedo demais para prever como os MOOCs irão se esgotar ou qual experiência irá emergir como líder. A Coursera, com cerca de 22 milhões de dólares em financiamento, incluindo 3,7 milhões de dólares em investimento de capital da Universidade da Pensilvânia e do Instituto de Tecnologia da Califórnia, talvez tenha alguma vantagem atualmente. Mas ninguém está desprezando a edX – uma parceria entre Harvard e o MIT-, ou a Udacity, companhia fundada por Sebastian Thrun, de Stanford, que ministrou o curso de inteligência artificial no ano passado.

Cada instituição oferece, na rede, materiais divididos em partes controláveis, com pequenas seções de vídeo, questionários interativos e outras atividades – assim como fóruns online, onde os estudantes poderão responder a perguntas uns dos outros.

Mesmo Thrun, um mestre dos MOOCs, advertiu que para todas as suas promessas, os cursos serão ainda experimentais. “Acho que estamos precipitando isto um pouco”, ele disse. “Eu não vi um estudo sequer mostrando que a aprendizagem online é tão boa quanto as demais”.

Alcançar o acesso do mundo todo é a meta da Coursera. “A EPF Lausanne, que oferece cursos de francês, abre o acesso de estudantes em metade de África,” disse Koller. Cada universidade projeta e produz os seus próprios cursos e decide se irá oferecer créditos ou não.

A Coursera não paga as universidades, e estas não pagam a Coursera, mas as duas partes têm de arcar com os custos substanciais. Contratos estipulam que, no caso de rendimento, a empresa e as universidades irão compartilhá-lo.

Embora os MOOCs tenham de ser autossustentáveis algum dia – seja através da cobrança de alunos por credenciais ou serviços premium ou através da cobrança de recrutadores corporativos para o acesso aos melhores alunos – Koller e funcionários da universidade disseram que esta não era uma preocupação urgente.

Cerca de dois terços dos estudantes da Coursera são do exterior, e a maioria dos cursos atrai dezenas de milhares de estudantes – uma atração irresistível para muitos professores. “Todo acadêmico gosta de um palanque e, na maioria das vezes, temos cinco pessoas nos ouvindo”, diz Scott E. Page, professor da Universidade de Michigan que ministrou o curso de modelo do pensamento da Coursera e ficou emocionado quando 40 mil estudantes fizeram o download de seus vídeos. “Pelos meus cálculos, tive o equivalente a 200 anos de alunos na minha aula.”

Professores dizem que seus alunos serão beneficiados, em sala de aula, pelos materiais online. Alguns reorganizaram seus cursos para que os estudantes participem primeiro de uma aula online. Somente após isso iriam à aula para projetos interativos e ajuda com as áreas problemáticas.

“O fato de que os alunos aprendem muito com os vídeos me dá mais tempo para cobrir os temas que eu considero mais difícil e apronfundá-los”, disse Dan Boneh, professor de Stanford que ministrou o curso de criptografia da Coursera.

Os contratos da Coursera não são exclusivos; muitas das universidades parceiras também estão negociando com várias entidades educacionais online.

“Falei com o reitor do M.I.T. e com a Udacity e a 2Tor “, que fornecem programas de pós-graduação online em diversas universidades, diz Peter Lange, reitor da Universidade de Duke. “Em um campo que se modifica tão rápidamente, precisamos de flexibilidade; por isso é muito provável que possamos ter duas ou três relações diferentes.”

O domínio do plágio online é um obstáculo que aparece

“Eu não gostaria de dar crédito até que alguém calculasse como resolver a questão do plágio e tivesse a certeza de que uma determinada pessoa, usando os materiais corretos, está fazendo os testes”, diz Antonio Rangel, professor do Instituto de Tecnologia da Califórnia, que irá ministrar ‘Princípios de economia para cientistas’ no próximo outono. Recentemente, a Udacity anunciou planos para que os estudantes paguem 80 dólares para fazer os exames em centros de testes operados pela Pearson, uma empresa global de educação.

A classificação também apresenta algumas perguntas. Os cursos de humanidades do Coursera usam um nivelamento ponto-a-ponto (P2P), nos quais os estudantes primeiro têm de mostrar que eles podem corresponder a uma classificação criada pelo professor e então avaliam o trabalho de cinco colegas. Em troca, têm os seus trabalhos avaliados por outros cinco alunos. Segundo Koller, o que aconteceria a um estudante caso ele não corresponda à classificação de um professor, no entanto, não foi ainda determinado.

Vai demorar algum tempo antes que seja claro como os novos MOOCs irão afetar as matrículas em instituições online com fins lucrativos; e se acabará por canibalizar as matrículas nas universidades que os produzem. Ainda assim, muitos professores descartam essa ameaça.

“Há conversas sobre como a educação online vai acabar com as universidades, mas muito do que fazemos no campus é ajudar a transição das pessoas de 18 a 22 anos, que é uma coisa complicada”, diz Page, o professor de Michigan, acrescentando que os MOOCs seriam mais úteis para “pessoas de 22 a 102 anos, estudantes internacionais e inteligentes aposentados.”

Fonte: Estadão

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