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Estudos científicos indicam que a hiperconexão decorrente do uso precoce de celulares e redes sociais por crianças e adolescentes está impactando o comportamento, bem como a saúde física e mental desses jovens, especialmente na ausência de controle de tempo e supervisão. Inclusive, dados recentes da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS revelam que essa faixa etária apresenta níveis de ansiedade superiores aos dos adultos.

A situação é séria, não dá para minimizar. Estamos diante de empresas que viciam as crianças, e fazem isso de propósito, para benefício próprio. Como uma família pode enfrentar uma empresa que investe bilhões de dólares em neurociência e programação para fixar a atenção nos seus produtos? Como é que a gente sai desse buraco?”, questiona o pediatra Daniel Becker. “Estamos amputando a infância, e é nela que mora a magia e a semente de uma vida mais feliz e mais leve na fase adulta. Essas vivências no mundo real estão desaparecendo e sendo trocadas por uma atividade muito tóxica. Precisamos, portanto, entender que a criança não precisa de celular. Ela precisa demais de vivenciar o mundo real.” Alerta o pediatra.

“A medicina pode prolongar sua vida por 20 anos, mas a infância continua durando 12”

Contudo, uma eventual conectividade, bem regulada e com objetivos claros, pode ser positiva. Seja para entreter as crianças com conteúdo de qualidade em momentos estratégicos, como numa fila demorada; seja para aprendizado de alguma atividade, línguas ou instrumentos musicais; seja para pesquisas escolares, ou até para manter contato com pessoas queridas que estão longe.

Propostas para o reequilíbrio

No livro “A Geração Ansiosa“, o psicólogo social norte-americano Jonathan Haidt identifica a hiperconexão como a causa da epidemia de transtornos mentais entre crianças, adolescentes e jovens. Com o advento dos smartphones e das redes sociais no início dos anos 2010, observou-se um aumento significativo nas taxas de depressão, ansiedade e suicídio entre esses grupos etários.

A proposta do autor é conter essa “reprogramação da infância”, como define os efeitos das redes sociais no bem-estar das novas gerações e da sociedade em geral. Além de ações governamentais e empresariais, Haidt coloca para as famílias quatro iniciativas fundamentais e urgentes para garantir uma infância mais saudável na era digital.

Dicas de Daniel Becker:

  • Nada de smartphones antes do 9º ano – “A criança não precisa de smartphone, porque é o instrumento mais tóxico. Não é questão de se afastar da tecnologia. Pode ver TV, tablet, até jogar. Se precisar para se comunicar, o indicado é celular sem internet.”
  • Nada de redes sociais antes dos 16 anos – “É melhor que isso aconteça depois de uma infância fora das telas. E depois da puberdade, quando ocorre uma reconfiguração da área do cérebro responsável pelo controle da impulsividade, definição das escolhas, planejamento e pensamento crítico.”
  • Nada de celular nas escolas – “Criança hoje não brinca mais na rua, em praças, e tem muitos compromissos que impedem o brincar. O recreio é o último reduto da brincadeira. É de importância capital para o resgate da vida real.”
  • Recuperar o brincar independente na vida real – “Estou chamando isso de sair do online e ir para o onlife. Voltar para a vida, para a luz do dia, para o movimento, para a interação, para a brincadeira, para a conversa, para a alegria e para a infância no mundo real. Ou seja, para tudo o que é absolutamente indispensável ao desenvolvimento humano.”

Participar ou não das redes sociais?

De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2023, 95% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos utilizam a internet, e a maioria possui perfis próprios em redes sociais, sendo Instagram, YouTube e TikTok as mais populares.

No entanto, muitos ainda não percebem que as redes sociais mostram apenas uma fração selecionada da realidade. A dificuldade em distinguir o real do virtual é grande. Imagens editadas e com filtros, frequentemente postadas, podem se tornar um padrão para crianças e adolescentes, especialmente meninas, levando a comparações desfavoráveis que podem causar problemas significativos de autoestima e autoimagem.

Os riscos de deixas as crianças com o uso excessivo de eletrônico, podem ser caros demais:

  • Aumento da miopia, que está se tornando uma epidemia;
  • Tendência ao sedentarismo, já que em vez de estar brincando e se movimentando, estão sentados no sofá com celular na mão;
  • Tendência ao isolamento social, porque ficam muito tempo dedicados às telas;
  • Enfraquecimento de musculatura, da ossatura e do condicionamento cardiovascular, além de problemas posturais;
  • Perda de coordenação motora, equilíbrio e das habilidades finas, porque praticam menos desenhar e escrever à mão;
  • Perda da atenção. Cérebros imaturos expostos horas por dia a vídeos curtos, altamente estimulantes, estão treinados para não manter atenção por longo tempo;
  • Redução do pensamento crítico. O conteúdo breve e o imediatismo das redes desenvolve a habilidade de respostas rápidas e mais automatizadas, assim não estimula a reflexão
  • Hiperatividade e transtornos do sono, devido ao superestímulo dos vídeos, excesso de informação e à ansiedade por notificações e likes. “Quando a criança dorme com o celular por perto, ela não dorme bem. E a criança que não dorme também não aprende, fica mal-humorada e não consegue se relacionar”;
  • Tendência ao consumismo exacerbado e à futilidade (rotinas de cuidado com a pele e maquiagem, por exemplo);
  • Transtornos de imagem, alimentares e perda da autoestima ao acreditarem que fotos editadas são realidade. Isso porque dispara a comparação, que se conecta com automutilação, depressão, ansiedade, transtorno de pânico e até aumento expressivo de suicídio;
  • Risco de contato com pedófilos, chantagistas, golpistas e pessoas com más intenções que estão à espreita na internet para se comunicar com a criança. “Existe uma proteção excessiva na vida real e proteção nenhuma no mundo digital”;
  • Riscos de cunho ideológico: as crianças e os adolescentes são altamente influenciáveis então ficam à mercê de conteúdos de ódio, intolerância, racismo, cyberbullying, entre outros;
  • Riscos de morte ao se submeterem a desafios perigosos, como tomar remédios, enforcamento etc;

Sobre este mesmo tema já escrevemos outros artigos:

Qual é o limite da tecnologia na infância?

06 dicas para lidar com as crianças e os eletrônicos

A importância do Higiene do sono as crianças

Este artigo foi compilado de notícias publicas no site Lunetas

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