Alguns de nós, que possuem uma certa tendência tecnológica, nos esquecemos – de vez em quando – do modo como a maioria das pessoas vê os dispositivos digitais: objetos como máquinas de lavar e televisões, que deveriam apenas funcionar.
Isso ficou claro pra mim recentemente quando uma amiga estava de mau-humor porque seu computador não tinha um desempenho satisfatório. Tentei discutir as possíveis razões para isso e quais ajustes ela poderia fazer para resolver o caso.
“Quero apenas que isso funcione”, ela disse. “Não quero saber o que vai dentro disso”. Ela admitiu que a máquina – configurada por um ex-companheiro de quarto – tinha proteção antivírus, mas ela não fazia ideia de onde ele estava, se estava funcionando e que deveria ser regularmente atualizado – felizmente estava!
– “O que me assusta”, disse a um CIO e empresário do ramo de tecnologia, “é que ela talvez represente 60% da população de usuários de computadores.”
– “Mais de 80%”, ele me respondeu.
Considerando que ele esteja correto, então o que poderíamos fazer sobre esse grupo de pessoas “não-tecnológicas” que vivem em um mundo cada vez mais digitalizado?
Recentemente aconteceu a Semana de Cibersegurança e recebi diversas mensagens de familiares; verifique se o seu sistema e aplicativos estão atualizados, utilize antivírus, faça backup de arquivos e faça com que sua conexão wireless fique segura.
Mas quantas pessoas desses 80% possuem conhecimento para fazer isso? Configurar a proteção do Wi-Fi pode ser difícil, particularmente para esses usuários.
Verificação de segurança e melhorias na eficiência da máquina levam muito tempo para a maioria das pessoas. Minha amiga, por exemplo, começou a ficar inquieta depois de 5 minutos que a desfragmentação iniciou. Se ela tivesse que pagar pelo meu tempo, com certeza teria suspeitado que eu estava deliberadamente prolongando o processo.
“Tudo o que quero fazer”, ela disse, “é mandar e receber e-mails, fazer buscas na web, pagar minhas contas e comprar e vender no eBay.”
Manter uma máquina funcionando e segura não deveria ser difícil.
Talvez, com arquivos pessoais e aplicativos sendo colocados na nuvem, vamos evoluir a um ponto em que computadores domésticos sejam mais finos e não possuam muito o que dar errado. E quando ele precisar de manutenção, bastaria levá-lo a uma loja para deixá-lo consertando durante uma semana e receberíamos outra máquina nesse meio tempo para que pudéssemos nos conectar à nuvem, sem traumas.
Talvez todos os computadores devessem ter a usabilidade do iPad. Mas nós não aceitaríamos isso. Falaríamos sobre um sistema fechado, liberdade e a virtude de ter um produto aberto ao público.
Também há uma questão a ser levada em conta sobre a profissão – como a Sociedade dos Computadores se tornou o Instituto de Profissionais do TI – deveríamos aspirar ao mesmo respeito que possuem os médicos, ou cada vez mais seremos vistos como meros mecânicos?
Em termos de privacidade, a parcela de 80% se deixa aberta a acusações de tolerar invasões de privacidade; “deixando de lado” e dando argumentos típicos de quem não se importa muito no mercado de ideias. Será que deveríamos educá-los para se importarem mais?
Por outro lado, orientando melhor a maioria dos usuários de computadores poderia nos educar; assim como no comércio, onde nos é sugerido passar mais tempo falando com “o negócio”.
Será que esses 80% de usuários são um problema – ou o problema é o modo como a sociedade está evoluindo? Eles precisam de “educação” para evitar que causem danos a si mesmos ou a outros; e como resolveremos essa questão sem que sejamos ignorados e taxados como geeks super sensíveis e narcisistas? Ou deixamos tudo para grupos de proteção, como o Netsafe, e nos refugiamos em nossa bolha tecnológica?
Stephen Bell, Computerworld New Zealand