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Com o avanço da tecnologia e o fácil acesso às redes sociais e plataformas digitais, crianças e adolescentes estão cada vez mais conectados. Se, por um lado, a internet oferece diversas oportunidades de aprendizado, diversão e interação social, por outro, traz também riscos significativos, como o “grooming”, um termo que descreve o processo de aliciamento online de menores por adultos com intenções maliciosas. Este fenômeno tem se tornado uma preocupação crescente para pais, educadores e autoridades, uma vez que crianças são especialmente vulneráveis a esse tipo de abordagem.

Entenda o que é o grooming

O grooming é uma prática em que um adulto estabelece uma relação de confiança com uma criança ou adolescente para, posteriormente, explorá-la sexualmente ou conduzi-la a situações perigosas. Esse processo envolve manipulação emocional, onde o agressor cria um vínculo afetivo com a vítima, ganhando sua confiança ao longo do tempo, para depois introduzir conversas e comportamentos inapropriados.

Esse crime é especialmente insidioso porque os aliciadores utilizam várias táticas de manipulação psicológica ou estratégias de Engenharia Social. Eles podem se passar por amigos, por outras crianças ou adolescentes, e até por figuras de autoridade ou celebridades que a criança admira. Os criminosos pedem fotos sexuais para as crianças e oferecem alguma coisa em troca, como um celular. Assim, quando a vítima manda, ela passa a ser ameaçada, até mesmo de morte. Os aliciadores digitais passam ainda a ameaçá-las utilizando dados disponíveis nas contas das redes sociais de familiares ou da própria criança, fazendo-a crer que ela precisa continuar enviando fotos.

Como acontece o grooming

O processo de grooming geralmente segue algumas etapas:

  1. Contato inicial: o agressor aborda a criança em espaços digitais onde ela interage, como redes sociais, fóruns de jogos, aplicativos de mensagens ou plataformas de vídeo. Esse primeiro contato pode ser sutil, geralmente por meio de uma conversa amigável ou elogios.
  2. Construção de confiança: aos poucos, o agressor ganha a confiança da criança, demonstrando interesse em seus hobbies, emoções e vida pessoal. Ele age como um “amigo” compreensivo, que compartilha dos mesmos interesses ou experiências, criando um laço emocional.
  3. Isolamento: após conquistar a confiança da vítima, o agressor pode tentar afastá-la de amigos e familiares, encorajando-a a manter o relacionamento em segredo. Ele também pode sugerir a mudança de plataforma para conversas mais privadas, onde o monitoramento é mais difícil.
  4. Introdução de temas sexuais: com o tempo, o predador começa a introduzir assuntos sexuais de maneira sutil. Esse processo é lento e gradativo, para não assustar a vítima. Pode começar com perguntas pessoais ou comentários sugestivos.
  5. Extorsão e chantagem: quando o agressor consegue materiais comprometedores, como fotos ou vídeos íntimos, ele pode começar a chantagear a vítima, ameaçando divulgar o conteúdo para familiares ou amigos caso ela não continue cooperando com suas demandas.

O impacto do grooming nas crianças

As consequências do grooming são devastadoras para as vítimas. Crianças e adolescentes aliciados online podem desenvolver sérios problemas emocionais, como ansiedade, depressão, perda de autoestima, dificuldades de relacionamento e até pensamentos suicidas. Elas também podem se sentir culpadas ou envergonhadas pelo que aconteceu, o que dificulta a denúncia e a busca por ajuda.

Além disso, o grooming muitas vezes leva ao abuso sexual, seja online, através da troca de conteúdos íntimos, ou presencial, quando o agressor consegue encontrar a criança pessoalmente. Esses encontros, que podem ser organizados com base na confiança construída ao longo do tempo, colocam a vítima em grande risco físico.

Dados preocupantes

Estudos recentes revelam que o grooming está em ascensão. De acordo com a SaferNet Brasil, uma ONG que trabalha com a prevenção de crimes cibernéticos, o número de denúncias de aliciamento infantil na internet aumentou significativamente nos últimos anos. Em 2023,a Safernet recebeu 71.867 novas denúncias de imagens de abuso e exploração sexual infantil online. O número é o recorde absoluto de denúncias novas (não repetidas) desse tipo de crime que a ONG recebeu ao longo de 18 anos de funcionamento.

Essa estatística alarmante reflete uma realidade onde crianças têm cada vez mais acesso a dispositivos conectados à internet desde cedo, mas nem sempre possuem a maturidade necessária para identificar riscos. As plataformas digitais, apesar de investirem em medidas de proteção, muitas vezes falham em evitar que criminosos usem suas redes para cometer esse tipo de crime.

Medidas de prevenção

A proteção das crianças contra o grooming exige uma abordagem multifacetada, envolvendo pais, educadores, plataformas digitais e autoridades. Algumas medidas importantes incluem:

  1. Educação digital: É fundamental que crianças e adolescentes sejam educados sobre os riscos online desde cedo. Conversas abertas sobre os perigos do compartilhamento de informações pessoais, a importância de não confiar em estranhos e a necessidade de denunciar comportamentos suspeitos devem ser uma constante em casa e na escola.
  2. Monitoramento dos pais: Embora o respeito à privacidade dos filhos seja importante, pais e responsáveis devem estar atentos à atividade online das crianças. Existem aplicativos e softwares que permitem monitorar o uso da internet, controlando o tempo de exposição e os sites visitados.
  3. Configurações de privacidade e segurança: As plataformas de redes sociais oferecem diversas opções de segurança, como contas privadas e a limitação de quem pode enviar mensagens diretas. Pais e educadores devem orientar as crianças a configurarem suas contas com essas medidas de proteção.
  4. Denúncia: Em caso de suspeita de grooming, é importante que os pais ou responsáveis denunciem o caso às autoridades competentes, como a Polícia Civil, que possui delegacias especializadas em crimes cibernéticos. Muitas plataformas também oferecem ferramentas de denúncia de perfis suspeitos.

O grooming é um crime silencioso, que muitas vezes se desenvolve lentamente e passa despercebido até que já tenha causado sérios danos. A internet, apesar de ser uma ferramenta valiosa, expõe crianças e adolescentes a perigos quando não usada de forma consciente e segura. A prevenção, através da educação, do diálogo aberto e da supervisão, é a melhor forma de proteger os menores de aliciadores online. É papel de toda a sociedade garantir que o ambiente digital seja um espaço seguro para que as futuras gerações possam crescer e se desenvolver sem medo.

Noticia retirada do site A Voz da Serra

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