Quando Bouska começou a montar táxis para a Kenworth, subsidiária da Paccar, ele teve que aprender os métodos apenas observando colegas fazerem o trabalho. Mas o funcionário disse que, desse modo, ele não conseguia ter muita prática e nem se interessar pela atividade. “Eles estão fazendo o trabalho, e você só precisa assistir”, contou Bouska, 21 anos. “Eu não sou muito bom em ficar sentado assistindo”.
Para casos como esse, seus gerentes tiveram a ideia de fornecer um óculos de realidade mista, que mistura o real com o virtual, para Bouska. O Microsoft HoloLens indicava com setas e diagramas quais eram os passos a serem seguidos, orientando seu trabalho. “Com o HoloLens, é só você e as instruções”, disse Bouska. Ele contou que aprendeu sua prmeira nova tarefa em cerca de 20 minutos.
Cinco das 50 unidades encomendadas, depois do sucesso de Bouska, irão para sua fábrica em Chillicothe. O local emprega mais de 2.000 trabalhadores, e o gerente planeja usá-los para treinar funcionários em pelo menos duas dúzias de tarefas.
Dispositivos de alta tecnologia têm desempenhado um papel central nos locais de trabalho de colarinho branco há décadas, com uma tela na frente de quase todos os rostos, e os dias dos funcionários gastos em e-mail, planilhas e videoconferências. Agora, empresas como a Microsoft veem uma oportunidade multibilionária de estender o mercado para pessoas que não estão sentadas atrás de uma mesa.
O óculos tenta integrar as ferramentas na vida corporativa de uma empresa, como treinamento, agendamento e comunicações regulares. Os esforços são possibilitados pela computação em nuvem, o que facilita o fornecimento de informações por meio de um aplicativo de smartphone ou de um headset de realidade mista.
Obviamente, outras empresas como o Google e o SalesForce, tentam adentrar esse mercado, mas nenhum parece ser tão agressivo quanto a Microsoft. Ela construiu grande parte de suas riquezas no fornecimento de tecnologia para empresas – agora tem uma avaliação de mercado de mais de US$ 1 trilhão, mais do que qualquer outra empresa de capital aberto – e está levando uma variedade de produtos para os trabalhadores, incluindo serviços de mensagens e HoloLens.
A Team Inc., empresa que realiza manutenção e reparos em instalações industriais como refinarias e oleodutos, percebeu no ano passado que quase metade de seus técnicos de campo utilizou contas de e-mail pessoais e celulares para se comunicar, disse Tracy Terrell, CIO da equipe.
Contudo, os líderes dessa equipe não querem mais depender de contas pessoais para enviar informações da empresa, que normalmente são confidenciais, e sim uma ferramenta corporativa fácil de operar. Por isso, a Microsoft criou uma versão simples do Teams, uma plataforma de mensagens projetada especificamente para funcionários de primeira linha.
Mais de 500.000 organizações usam Teams, embora a Microsoft não diga quantas usam a versão projetada para funcionários da linha de frente. Esta pode sincronizar com programas de agendamento, permitindo que trabalhadores troquem turnos, ou apenas enviem mensagens para colegas.
“Não há dúvida de que isso funcionará”, disse Brad Reback, analista do banco de investimento Stifel, sobre o esforço para alcançar os funcionários da linha de frente. “A velocidade com que as empresas decidem adotá-lo? Veremos.”
O HoloLens deve demorar mais que o Teams para ser implementado em empresas. Isso porque o óculos de realidade mista exige um investimento alto, como a compra do equipamento e a colocação dele em uso.
Quando a Microsoft introduziu o HoloLens, foi comercializado tanto para uso corporativo quanto para jogos. Mas a empresa rapidamente descobriu que um produto de US $ 3.000 não iria decolar, por isso se concentrou em companhias que poderiam ter orçamentos para comprá-lo em grande número.
O maior comprador desse produto da Microsoft é o militar. Em novembro, o Pentágono concedeu à Microsoft um contrato de US$ 479 milhões para fornecer “maior letalidade, mobilidade e consciência situacional” aos soldados em treinamento e no campo de batalha.
Porém, pensando em outras a áreas, a versão mais recente do dispositivo é mais adequada aos funcionários de primeira linha. O headset ficou mais equilibrado, para que os trabalhadores possam usá-lo por mais tempo, sua implementação também foi facilitada, para que um departamento interno de TI conseguisse implanta-lo, e a conexão dos funcionários por contas e senhas corporativas regulares foi permitida.
Antes, parecia existir uma grande questão sobre quais eram as reais vontades de investir uma quantia considerável nesses produtos. Porém, a Microsoft parece pouco a pouco estar adaptando-se ao mercado e percebendo como a sua mercadoria pode ser atrativa para clientes.
Fonte: The New York Times