Ele define a sequência de informações que você vê na sua timeline usando um critério secreto, que não revela a ninguém. E chegou a fazer uma experiência para tentar alterar o humor de centenas de milhares de pessoas sem que elas soubessem. Deu certo.
Não existe uma resposta direta. Mas existem algumas pistas muito boas. Em 2013, pesquisadores da Universidade Benihang, na China, analisaram 70 milhões de posts do Weibo, rede social chinesa que mistura características do Twitter e do Facebook. Usando um software que lia palavras-chave, eles classificaram cada post como alegre, triste ou irritado – e viram como ele se propagava pela rede. As mensagens irritadas eram as que se espalhavam mais rápido, e chegavam mais longe: eram replicadas por pessoas a até três níveis de separação do autor (o amigo do amigo do amigo repetia o post).
”Quando a pessoa está online, há uma desinibição. Ela fica mais solta”, afirma o psicoterapeuta Cristiano Nabuco, do grupo de pesquisas em dependência tecnológica da USP. Isso acontece, segundo ele, por causa da distância física. Como não estão frente a frente, as pessoas se sentem mais à vontade para trocar acusações e insultos. E no Facebook basta um clique para curtir ou replicar o que outra pessoa disse – inclusive insultos. ”Isso potencializa a agressão, porque eu posso fazer uma ofensa e dez pessoas vão lá e me ajudam na ofensa, vira um grupo ofendendo uma pessoa”, explica Ana Luiza Mano, do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática da PUCSP.
E isso pode ter consequências profundas. Segundo o Mapa da Violência 2014, um estudo elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, o número de suicídios entre adolescentes brasileiros cresceu 36,7% entre 2000 e 2012 (o dobro do aumento nas demais faixas etárias). O estudo não acusa as redes sociais. Mas o período em que os suicídios crescem coincide com a ascensão delas.
Se você se sentir mal por causa do Facebook, basta se desconectar ou colocar o celular no bolso, certo? Não é tão fácil assim. Porque as redes sociais mexem com o núcleo accumbens, uma região que fica no meio do cérebro e regula o chamado ”sistema de recompensa”. Quando fazemos alguma coisa agradável – comemos algo gostoso e calórico ou fazemos sexo, por exemplo -, esse sistema libera dopamina, um neurotransmissor que nos dá prazer. É a forma de o cérebro nos dizer que aquilo (comer bem ou se reproduzir) é vital para nossa sobrevivência, e, por isso, devemos repetir sempre que possível. Trata-se de um mecanismo ancestral, que se desenvolveu muito antes da internet. Em 2013, um estudo da Universidade Livre de Berlim descobriu que ganhar likes no Face ativa esse mesmo sistema. Cada ”curtida” que recebemos provoca uma liberação de dopamina, como as que temos ao comer e fazer sexo. ”A sensibilidade do núcleo accumbens leva a mudanças de comportamento no mundo real”, explica, no estudo, o neurocientista Dar Meshi. Por isso o Facebook é tão irresistível.
Só que abusar dele é perigoso. Pode literalmente deformar o cérebro. Em 2012, um grupo de cientistas chineses analisou 17 adolescentes viciados em internet – que ficavam conectados pelo menos 5h30 por dia e tinham problemas na vida social por causa disso. As imagens dos exames revelaram anormalidades no córtex orbitofrontal, região que nos ajuda a controlar impulsos, e no corpo caloso, que conecta os dois hemisférios do cérebro. Segundo o estudo, os danos eram similares aos encontrados em viciados em álcool e cocaína.
As redes sociais estão mexendo conosco. Inclusive de propósito – como quando o Facebook realizou uma experiência secreta e polêmica, em que as cobaias foram os próprios usuários.
Sequencia do artigo Conheça o lado Negro do Facebook