A saúde é, por excelência, uma grande vitrine da ineficiência e dos efeitos da corrupção porque é uma área cuja gestão atinge direta e implacavelmente o cidadão. A mídia exibe diuturnamente erros médicos, negligência na administração de medicamentos, longas filas, gestão ineficiente de recursos que leva à perda de vidas e ao fechamento de instituições e entidades fundamentais à população, falhas inaceitáveis praticadas por planos de saúde e por aí vai. O rosário de mazelas é interminável.
O sistema de saúde representa um desafio para todos os países. Segundo o Relatório Mundial da Saúde “O Financiamento da Cobertura Universal”, da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 20% e 40% de todos os gastos em saúde são desperdiçados por ineficiência. E o Brasil é campeão de ineficiência, de acordo com levantamento da consultoria Bloomberg que trata da eficiência de sistemas de saúde. Figura no último lugar de uma lista de 48 países.
Mas a ineficiência não é privilégio somente do setor da saúde. Um estudo do Gallup com empresas globais de diversos segmentos mostrou que, em média, apenas 13% dos trabalhadores no mundo estão engajados no trabalho. É isso mesmo que você leu. A perda de tempo registrada por empresas por causa da ineficiência chega a 2:45h por empregado, por semana. Impressionante, não é mesmo? E o Brasil tem o menor índice de engajamento das Américas (65%), atrás da média da América Latina (60%) e USA (52%).
O resultado disso? Alongamento de prazos, orçamentos extrapolados, empregados estressados provocando inúmeros erros operacionais, falta de empenho na solução de problemas (o combate a infecções hospitalares, por exemplo), perda de competitividade, entre outras. E o pior é que a ineficiência gera uma crise de confiança.
Mas, como isso é possível com tanta tecnologia?
As transformações tecnológicas que estamos vivenciando nos últimos anos vêm impactando profundamente estruturas sociais, principalmente em relação a comportamentos, e também afetando modelos de negócios tradicionais. E a saúde não ficou fora desse tsunami. Não querendo exagerar, o doutor Google passou a ser um comparativo de diagnóstico do doutor tradicional. Drones para transporte de insumos médicos para socorrista e, microrobôs (Israel) para diagnósticos precoces são exemplos de inovações que num futuro não tão distante também farão parte do conjunto de tecnologias que usamos.
A capacidade de adaptação rápida a essas mudanças tornou-se um ativo fundamental, pois as mudanças são exponenciais, enquanto o mundo está acostumado a pensar de forma linear. Nesse contexto, o sucesso empresarial passou a ser medido pela velocidade. Ganha importância a capacidade de pivotar e de “virar o jogo”, cada vez mais rápido. A pressão por prazos mais curtos e orçamentos mais enxutos viraram mantras para os gestores, assim como a obrigatoriedade de realizar tarefas com menos gente. Em outras palavras, o velho jargão “fazer mais com menos” continua atualíssimo, sobretudo em tempos de crise. Haja fôlego!
Mas, enquanto o mundo empresarial está nesta corrida desabalada, os empregados estão acionando a marcha lenta. Embora muitas empresas se esforcem, não estão mais conseguindo engajar as pessoas com suas crenças e valores. Elas estão se sentindo desmotivadas e lutando para equilibrar vida pessoal e trabalho. Estão longe de querer dar o seu melhor. A verdade é que, embora estejamos utilizando muitas tecnologias para organizar e colaborar, muitos processos de trabalho continuam ineficientes e arrastados, gerando prejuízos e descontentamento.
Onde mora o problema?
A pressão por performances crescentes e a sensação constante de falta de tempo ajudam a explicar em parte esse descompasso entre as expectativas da empresa e as do trabalhador, mas, no meu ponto de vista, o principal problema é outro. Reside no fato de as empresas trabalharem com pessoas e com tecnologias do século XXI, mas com metodologias, modelos de gestão e mentalidades do século XX. Em outras palavras, estamos trabalhando de forma errada. No fim das contas, os negócios estão pagando um alto preço pela estrutura Frankenstein que criaram e que alimentam forçosamente. E isso irá se manter enquanto o “C level” insistir em não entender o job to be done e atuar nele.
Muitas empresas desperdiçam a capacidade de seus melhores cérebros por não dar a importância devida à comunicação e por criar empecilhos para a colaboração e a interação entre as pessoas. Barreiras criadas pelo excesso de hierarquia, dificuldades de acessar chefias e processos inflexíveis, além de gerar ineficiência, minam a confiança das pessoas e destroem aquela convicção de que têm uma solução incrível para um determinado problema. Considerando os desafios da jornada da inovação, é impossível chegar a inovações disruptivas com uma turma desmotivada, sem brilho no olho e sem vontade de fazer diferente.
Creio firmemente que uma das áreas mais promissoras para inovar é a gestão. Os gestores devem fazer o exercício de olhar profundamente para dentro de suas organizações e mercados, não apenas para descobrir falhas e pontos de melhoria, mas principalmente para identificar oportunidades latentes e ocultas que, uma vez desenvolvidas, podem resultar em ativos valiosos. Um conselho? Não faça isso sozinho ou somente acompanhado por outros gestores. Convide trabalhadores da base da pirâmide, clientes, clientes dos clientes, parceiros e outros stakeholders. A Plataforma KER, modelo que cria uma cultura da inovação na empresa, através da colaboração e inclusão, pode ajudá-lo a fazer isso de forma estruturada.
Sabemos que a saúde é fragmentada e, portanto, a inovação inclusiva e colaborativa pode ajudar no tratamento das ineficiências desta tão importante indústria. Porque tratar a saúde é sempre mais eficaz do que combater a doença.
Texto extraído do site www.keroinovar.com.br