O desenvolvimento da comunicação e resolução de problemas em crianças a partir de dois anos de idade pode ser afetado pelo uso excessivo de telas já aos 12 meses, de acordo com um estudo japonês envolvendo 7.097 crianças. Os resultados indicam que mais de quatro horas diárias de exposição à tela para bebês podem estar associadas a atrasos futuros nessas habilidades cruciais, manifestando-se entre os 2 e 4 anos de idade.
Os pesquisadores, das universidades Hamamatsu e Tohoku, formularam a pesquisa questionando os pais sobre o tempo dedicado diariamente a atividades como assistir TV, DVDs, videogames e jogos na internet. A análise abrangeu diversas áreas de desenvolvimento, incluindo comunicação, motricidade grossa e fina, resolução de problemas e habilidades pessoais e sociais.
Contudo, o estudo não diferenciou entre o tempo de tela educacional e outras formas de uso, levantando possíveis inconsistências nos resultados, especialmente no que diz respeito às habilidades pessoais e sociais.
Maria Mello, coordenadora do programa “Criança e Consumo” do Instituto Alana, destaca que o excesso de tela pode resultar em distúrbios de sono, cognitivos, de atenção, depressão e ansiedade. Ela ressalta a importância de distinguir o propósito do uso da tela, seja para comunicação ou conteúdo educativo, em comparação com o consumo em redes sociais com fins comerciais ou sensacionalistas.
As orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria reforçam a necessidade de limitar o tempo de tela de acordo com a faixa etária, enfatizando a importância da supervisão. Recomendações incluem evitar exposição a telas para crianças menores de dois anos, limitar a uma hora diária para crianças entre dois e cinco anos, e ajustar para duas a três horas diárias para adolescentes de 11 a 18 anos.
Bebel Barros, pesquisadora do programa “Criança e Natureza” do Instituto Alana, destaca que ambientes urbanos seguros, verdes e bem cuidados proporcionam oportunidades cruciais para o desenvolvimento infantil.
Além do impacto no desenvolvimento, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) destaca quatro tipos de riscos relacionados ao ambiente digital, incluindo conteúdo inapropriado, contato com usuários mal intencionados, riscos de conduta (como o cyberbullying) e riscos contratuais relacionados a relações comerciais online.
Maria Mello enfatiza a diferença entre a experiência individual da criança diante de telas pequenas e grandes, ressaltando a importância da mediação parental e da alfabetização midiática para garantir um uso ético, seguro e educativo da internet.