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“O Grande Irmão (Big Brother) está observando você”. A frase do escritor George Orwell, autor de Revolução dos Bichos e 1984, que já fez referência ao controle do governo e agora ao reality show, também pode ser usada para se referir ao setor de Recursos Humanos (RH), aquele que vai determinar a contratação e manutenção do funcionário na empresa. Pois não tenha dúvida: as empresas seguem o candidato pelas redes sociais e monitoram comentários, fotos, amigos, comunidades e todo o resto que estiver ao alcance. Por isso, especialistas apontam que é importante ser positivo, moderar as críticas e jamais expor o empregador a situação vexatória. Além de demissão, isso pode gerar indenização.

De acordo com uma pesquisa da empresa de segurança de rede Palo Alto Networks, os funcionários das empresas passaram a usar três vezes mais as redes de 2010 para 2011. Apenas o acesso ao Twitter no trabalho subiu 700% no período. Outro levantamento, feito pela empresa especializada em produtividade Triad, constatou que 84,6% dos entrevistados acessam redes sociais. Do mesmo modo, cresce o monitoramento dos empregadores. Uma pesquisa com 290 executivos brasileiros apontou que 35,3% deles já descobriram alguma atitude imprópria de funcionário por meio das redes sociais, segundo a empresa de recrutamento Robert Half.

O presidente do Instituto Brasileiro de Coaching, José Roberto Marques, diz que tanto os profissionais que já estão no mercado, quanto aqueles que buscam uma nova vaga, devem estar atentos às informações que publicam em suas redes sociais, pois elas ficam expostas para todos. Algumas empresas até auxiliam o funcionário, indicando um manual de conduta, com o que pode e o que não deve ser dito no ambiente virtual. “Com essa política fica mais fácil para a empresa estabelecer o que é uma conduta correta e incorreta e punir e até demitir o funcionário”, afirma o advogado especialista em direito virtual, Rafael Fernandes Maciel.

Conforme a coach (profissional que auxilia o cliente a atingir um objetivo) da Cóndor Blanco, Raquel Bimashar, os perfis pessoais e profissionais devem ser usados sempre a favor da carreira. “Tenho que verificar o que eu quero com cada postagem, como cada imagem que coloco. Tem coisas que a gente não precisa expor”, diz. Segundo ela, devem ser evitados julgamentos sobre outros profissionais, posições polêmicas e comentários sobre o trabalho. “É melhor usar a rede de forma neutra, para ampliar o networking (rede de contatos)”, indica.

Controle
Segundo o diretor executivo da Sociedade Latino Americana de Coaching (SLAC), Mike Martins, os profissionais de RH entram nas redes sociais de todos os candidatos antes de escolher quem contratar. “Isso já faz parte do recrutamento. Eles verificam as comunidades, os amigos e passam por um treinamento qualificado para entender todas aquelas informações e traçar um perfil dos candidatos”, conta. A linha do tempo das redes é fundamental nesse processo. “O histórico das redes sociais pemite um mapeamento que mostra se essa pessoa está de fato alinhada com os valores da empresa”, completa.

Para o advogado, há casos de empresas que pagam uma bonificação para funcionários que estejam dispostos a apontar condutas impróprias de colegas nas redes. Essa prática, segundo ele, já é comum nos EUA e na Europa. “Há inclusive o caso de empresas que exigem a senha das redes sociais para checar o comportamento dos funcionários, mas é uma política abusiva que não deve ser aceita”, conta.

“O que as empresas estão buscando nas mídias sociais são referências para conhecer melhor o perfil de seus profissionais que podem vir a empregar, e dessa forma, avaliar se estas pessoas se enquadram dentro dos comportamentos e diretrizes que a organização considera mais condizentes com seus valores”, afirma Marques. Além disso, há o monitoramento dos computadores nas próprias empresas. “Essa política pode ser instaurada desde que os funcionários saibam que estão sendo fiscalizados”, completa o advogado.

Veja dicas do que não fazer nas redes sociais
1- Fazer comentários sobre a empresa
Mais do que perder o emprego (até por justa causa), o funcionário pode ser processado – civil e criminalmente – dependendo do que falar da empresa na rede. “Nas redes sociais são produzidas provas e, em caso de calúnia, injúria ou difamação, a empresa ou colegas podem pedir reparação”, diz Maciel.

2- Criticar
Para Raquel, manter uma atitude positiva no Twitter e no Facebook é fundamental. Evite críticas, comentários negativos ou agressivos. “Se o funcionário quer usar as redes sociais a favor de suas carreiras, não deve postar nada negativo. A internet também é um ambiente de motivação, os comentários devem ser sempre positivos, com a função de ampliar o número de pessoas na sua rede de contatos”, comenta. Para o presidente do IBC, nenhum profissional também deve perder tempo falando de outra empresa na qual trabalhou. “Nunca fale mal de sua antiga empresa, patrões e colegas. Isso pode indicar instabilidade emocional e criar uma imagem ruim sobre você”, afirma.

3- Evite polêmicas
O Supremo Tribunal Federal (STF) deu uma decisão a respeito de um tema polêmico (ex: aborto de anencéfalos) e você quer mostrar a sua opinião? Deixe-a restrita aos amigos reais. “A rede social não é lugar de polemizar, você pode entrar em atritos com pessoas que podem vir a te prejudicar profissionalmente. O melhor é manter uma atitude neutra”, diz Raquel.

Cuidado com as fotos
Imagens de bebedeiras, “baladas” excessivas, fotos sensuais e provocantes. Tudo isso pode pesar contra o empregado. “As imagens dizem muito, permitem uma análise mais profunda da pessoa e fazem o empregador questionar se ela se encaixa na companhia. É preciso ter cuidado”, diz Martins.

Comunidades
“Odeio trabalhar”, “detesto acordar cedo” e “festa todo dia” não são exatamente comunidades de um funcionário que deve chegar ao serviço às 7h da manhã, e de preferência bem disposto. “Os recrutadores checam todos esses dados, assim como os gestores de RH. Então é melhor ficar com um cuidado redobrado em relação às comunidades das quais faz parte”, diz o diretor.

Seguidores
O ditado “diga-me com quem andas que te direi quem és” é seguido pelos analistas de recursos humanos. Não deixe de bloquear pessoas com perfil controverso. “O perfil de uma amigo também pode ser verificado e pode ser usado contra um funcionário”, conta o diretor.

Constranger a empresa
Funcionário com a camisa da empresa em situação de embriaguez não precisa postar a foto na rede. O constrangimento desnecessário – prejuízo à reputação da empresa – também pode gerar demissão e até indenização. “É importante que o funcionário não coloque a imagem da empresa em risco”, diz o advogado.

Brigas públicas
Evite entrar em conflito com qualquer pessoa no ambiente virtual, em especial com colegas de trabalho e superiores hierárquicos. “Tente sempre resolver qualquer diferença e insatisfação com uma boa conversa e pessoalmente”, diz Marques.

Origem: Bruna Saniele

 

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