O avanço tecnológico e a ampla disseminação da Internet têm transformado profundamente a forma como crianças e adolescentes interagem com o mundo. No Kosovo, país que detém a população mais jovem da Europa, essa transformação tem ocorrido de forma intensa: 97% das crianças têm acesso regular à Internet, segundo dados de organizações especializadas em estudos cibernéticos. No entanto, essa conectividade, quando não mediada de forma adequada, tem revelado sérios riscos à saúde mental e emocional do público infantojuvenil.
Relatos de especialistas locais demonstram que o uso excessivo e descontrolado da Internet tem contribuído para o surgimento de quadros de ansiedade, depressão e até tentativas de suicídio entre crianças e adolescentes. De acordo com Teuta Zymeri, diretora executiva do Centro de Estudos Avançados, há um aumento preocupante nos pedidos de ajuda de pais e das próprias crianças, especialmente após episódios de cyberbullying, exposição pública de imagens e ridicularização em ambientes virtuais. Zymeri relata que casos graves, como tentativas de suicídio após a divulgação de fotos pessoais em redes sociais, não são mais uma exceção.
Além disso, Zymeri destaca que a exposição constante a conteúdos inadequados, como pornografia, cenas de violência, jogos online viciantes e contatos com desconhecidos, representa uma ameaça crescente ao desenvolvimento emocional das crianças. “A Internet, quando mal utilizada, torna-se um risco real. Recebemos relatos de encontros com desconhecidos e dependência de jogos, o que tem causado desestruturação emocional em muitos jovens”, afirmou.
O psicólogo Besnik Peci reforça esse alerta, ao afirmar que o assédio online pode ser ainda mais destrutivo do que a violência emocional presencial. Ele ressalta que muitas vítimas não possuem estrutura emocional suficiente para lidar com a exposição pública ou com a rejeição dos pares, o que pode comprometer gravemente sua integração futura na sociedade. “A violência cibernética deixa marcas profundas e invisíveis. O ridículo virtual, praticado por outras crianças, pode gerar traumas duradouros”, disse.
Tanto Peci quanto Zymeri enfatizam a necessidade urgente de incluir a educação digital nos currículos escolares e de investir na presença ativa de psicólogos nas escolas. Essa medida permitiria fortalecer o chamado “triângulo da proteção” – formado por criança, pais e educadores –, essencial para prevenir e mitigar os danos causados pelo uso inadequado da Internet.
Essas conclusões ecoam os alertas que venho publicando ao longo dos últimos anos por meio do Projeto Web Segura, registrado em mais de 500 artigos e materiais educativos no site www.andrequintao.com. Em obras como o livro Pai Real no Mundo Virtual, defendo a necessidade de criar uma cultura de mediação digital ativa e consciente, como estratégia fundamental para proteger a infância e a adolescência em um mundo onde o digital é onipresente.
A pesquisa do Centro de Estudos Avançados revela, por exemplo, que 43% das crianças kosovares relataram contato com pessoas desconhecidas na Internet, e 32% afirmaram sentir medo ou preocupação após esses encontros. Esses dados reforçam a urgência de abordagens educativas preventivas e da construção de ambientes digitais mais seguros.