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A História é uma evolução natural, goste-se ou não dos factos. É essa a riqueza da Humanidade. Com muitas injustiças e algumas justiças!

Quando vejo, oiço e leio reportagens, intervenções públicas, artigos, declarações ou comunicados com exigências de cancelamento da História ou de reposição de ambientes passados que não são dos dias presentes, por suposta atual ideologia moral superior aos comuns mortais, lembro-me sempre de Estaline, que eliminava das suas fotografias os amigos que eliminava de forma “suavemente linear” das ruas da humanidade.

Naturalmente que todos aqueles que não entendam e não se lembrem da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em particular o seu artigo 1º, que refere simplesmente que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”, devem no mínimo ser relembrados da sua importância!

Criar factos de ostracização, de suposta recuperação ou de recolocação de bens nos seus locais de origem, evocando passados que são hoje minoritários sobre racismos ou colonialismos de África, esquecendo-se de realidades históricas, onde o racismo e a escravidão entre tribos africanas (e não só) eram bem patentes e factuais, causa-me alguma estupefação. A própria Europa viveu temas similares. Lamento não compreender estas manifestações, sendo que admito que pode ser defeito pessoal.

Quando tento enquadrar similitudes de pensamento chego, no mínimo, à civilização egípcia, onde escravos e servos eram comuns, passando pelos romanos ou muçulmanos da Antiguidade, que desenhavam modelos de classes estruturados, com acessos predefinidos de ação. Vamos exigir aos egípcios ou aos italianos (romanos) que se retratem?

A História é isto mesmo. Uma evolução natural, goste-se ou não dos factos. É essa a riqueza da Humanidade. Com muitas injustiças e algumas justiças! Gostemos ou não da realidade que nos afeta na atualidade. Façamos com que futuro seja melhor. Basta cada um dar o seu contributo e garantir, em consciência, que lutámos por um mundo mais justo no presente e para o futuro, assegurando a multiplicidade de opiniões distintas das nossas. É este um dos conceitos base de liberdade e sem quaisquer conceitos de superioridade moral!

Acima de tudo, considero que a importância da consistência ética e da honestidade intelectual devem prevalecer sobre interesses pessoais de curto prazo, em particular sobre a necessidade de fama fugaz ou de likes em redes sociais. Isso, sim, é certamente mais importante.

Vivemos tempos onde, na sombra de redes sociais, se ofende facilmente, mas onde há muito puritanismo, muitas sensibilidades “de damas ofendidas” (como dizia a minha avó), onde qualquer frase menos bem entendida é mal interpretada e ganha um risco de amplitude elevada. O politicamente correto foi substituído pelo puritanismo correto!

A realidade é que quando se pensa demasia no passado, não se olha para o futuro. Este, sim, é um dos males de Portugal. Quando vejo, recorrentemente, esforços e preocupações em querer reescrever a história sem a conhecer, em eliminar as vozes discordantes em vez de estarmos focados em ambicionar um futuro com liberdade de pensamento e de criação de valor, considero que perderemos demasiada energia e sem qualquer resultado prático de melhoria da sociedade no futuro.

Por esse motivo, termino este artigo desejando saber mais e aprender com o passado, para reescrever o futuro! Continuarei a ‘perder’ mais tempo nessa demanda.

Escrito por Rui Ribeiro para “O Jornal Económico” em 01 de agosto de 2023

Rui Ribeiro é Diretor Executivo LISS. Universidade Lusófona Information System School

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